Dia 1 de Carvalhal - entrevista

A partir das 17.45, Carvalhal é o meu treinador. Entenda-se, que é o início da primeira partida que vai orientar enquanto treinador Leonino. Nunca tive uma opinião formada sobre ele enquanto treinador de futebol. Há estatísticas que este ano estão a ser usadas para o desprestigiar, mas há também um troféu conquistado, e não são de pré-época, e uma presença no Jamor e na UEFA com uma equipa de um escalão inferior. Vale o que vale!

Hoje, e partir de hoje, estarei ao seu lado. Darei a minha opinião na mesma onde crítica que a fiz sempre com o trabalho de Paulo Bento. As divergências entre Sportinguistas têm de ter hoje um fim. Porque apesar de tudo é o começo de uma nova era. Pelo menos até ao final da época desportiva. Pelo Sporting que a união comece hoje! Ponto final em conversa laterais.

"«Tenho capacidade para liderar este projecto»
Por

PEDRO SOARES
COMO é que foram estes primeiros dias de trabalho na Academia e o que espera conseguir ao leme do Sporting?

— Em primeira instância, quero tranquilizar a equipa, subir os índices de confiança, dar-lhe uma organização de acordo com a minha ideia de jogo. Há que pensar que é importante não dar o segundo passo mas o primeiro, que é o jogo da Taça e é nesse que temos de nos concentrar. Depois, teremos o segundo passo e o terceiro. Não adianta estar a pensar no que vamos fazer amanhã se no dia de hoje não melhorarmos as nossas competências e não tornarmos a equipa mais confiante, para subir a auto-estima.

— Não foi a primeira escolha para suceder a Paulo Bento e foi apresentado de forma inédita. Como olha para estes factos?

— Da experiência que tenho, para cada lugar aparecem sempre dez nomes e oitenta a noventa por cento são especulação. Não sei se sou primeira ou décima quinta escolha, sei que fui o treinador escolhido para treinar o Sporting e de certeza absoluta que não foi pelos meus lindos olhos, mas porque reconhecem em mim capacidade para liderar este projecto. Vim encontrar um espaço físico fantástico, jogadores motivados e desejosos de recuperar tempo perdido, uma estrutura de apoio em termos humanos muito boa, o apoio muito de perto do Sá Pinto, que tem sido inexcedível para mim e para os jogadores. E uma paz boa para trabalhar. Esperamos que em cada jogo possamos dar resposta para retribuir apoio muito grande como o manifestado na festa da Batalha.

— É treinador com grande tarimba, como disse Bettencourt?

— Sou treinador com tarimba, não tenho dúvidas. Chego ao Sporting com pontos altos. Penso que nos últimos anos nenhum treinador português chegou a um clube grande com os pontos altos que tive. Depois de cá estar a facilidade de conseguir títulos é maior, difícil é em equipas pequenas conseguir desempenhos de alta qualidade. Chego com passado já significativo. Sinto claramente capacidade para liderar este projecto e que as pessoas à nossa volta estão motivadas para nos ajudar. Há desejo muito grande de retomar a senda das vitórias.

— Reuniu com as claques para aproximar adeptos da equipa?

— Não fiz nenhum pedido para reunir com as claques, foi concertado e fui convidado a estar nesse encontro. Vi, acima de tudo, um sentimento de unidade no universo sportinguista. A força de um clube são os seus adeptos e manifesta-se a nível estrutural. Os adeptos do Sporting têm muita força e têm-na manifestado.

— Tem jogadores para o 4x3x3?

— O que defendo é que as equipas devem ter capacidade de se ajustar no próprio jogo para utilizar sistemas diferentes. Partindo do princípio que há um sistema que os jogadores dominam, vamos trabalhar um outro. É natural que haja algumas alterações relativamente à dinâmica da equipa e posicionamento no campo, mas será em função do que entendemos que é melhor em cada jogo ou momento do jogo.

«ACEITEI COM SORRISO E ASSINEI DE CRUZ»

— Só ter contrato até final da época não lhe dá pouca margem de erro?

— De forma alguma. Aumenta-me a responsabilidade de demonstrar que tenho capacidade para liderar o projecto e projectar o Sporting do futuro. Aceitei o desafio com um sorriso nos lábios e assinei de cruz.

— Para si foi uma surpresa o convite do Sporting?

— Surpresa no timing, mas não uma surpresa. Se me perguntar se depois da minha época em Setúbal esperava um convite de um grande, respondia claramente que sim.

— O que lhe pediu Bettencourt?

— Em primeiro lugar, e temos de ter consciência disso, que é preciso ganhar, colocar a equipa a vencer. O Sporting não depende de si no campeonato, mas não adianta estar a traçar qualquer tipo de cenário. A história do Sporting exige que entremos nos jogos todos para vencer, no final faremos as contas e veremos onde conseguimos chegar.

— Este plantel permite-lhe trabalhar os sistemas que pretende?

— Uma mudança de estrutura implica ligeiras alterações relativamente ao posicionamento e capacidade de adaptação dos jogadores. Indo ao encontro das expectativas dos jogadores em relação à sua posição original, penso que temos plantel para essa alternância.

— Todos os jogadores partem do zero?

— Pelo conhecimento que temos do futebol português, de aspectos relacionados com a capacidade técnico-táctica de cada jogador, mentiria se dissesse que sim. Partem em plano de igualdade, mas subordinados ao facto de conhecer o trajecto de cada um em função da sua capacidade.

«INTENSIDADE E AGRESSIVIDADE COMO MARCA»

— O jogo com o Pescadores é o ideal para preparar o derby?

— Sabemos que na Taça de Portugal estes jogos são sempre difíceis, não há jogos fáceis. Temos alguns pressupostos importantes para este jogo: manter nível de seriedade muito grande durante o mesmo, de intensidade e agressividade constante, porque é isso que queremos como imagem de marca da equipa. Independentemente do adversário, temos de ter sempre o mesmo comportamento e os grandes jogadores têm comportamento igual jogando com equipas de top ou de escalões inferiores. É essa a exigência para o jogo da Taça.

— Vai testar o 4x3x3?

— Vamos jogar com os que entendemos que são os melhores jogadores. Relativamente ao sistema, podemos flutuar durante o jogo. É evidente que não podemos esperar, com tão poucos dias de trabalho e com os jogadores a virem das selecções a 90 por cento, alterações de monta. Vamos esperar que apareça, acima de tudo, a parte da motivação, entrega, atitude, do querer ganhar.

— Como encontrou o plantel?

— O que senti foi desejo muito grande de vencer. Senti que a auto-estima não estava muito elevada. Tive conversas praticamente com todos os jogadores, muito frutuosas. Dessas conversas tirámos conclusões importantes sobre o que pensam individualmente, da sua própria dinâmica de motivação para o futuro. Uns querem ir ao Mundial, outros querem dar imagem diferente, espero que consigam, naquilo que os move interiormente, ir ao encontro disso.


Conversa frutuosa com Paulo Bento

"Tive oportunidade de falar com o Paulo Bento e com a sua equipa técnica, acto de grande amizade e profissionalismo. Não vou revelar o teor da conversa, foi entre duas pessoas que falaram sobre a equipa, sobre futebol em geral. Houve a transmissão de algumas ideias que o Paulo tinha individual e colectivamente sobre a equipa. Foi uma conversa frutuosa e um elemento importante. Agradeço não só ao Paulo Bento como também à disponibilidade da equipa técnica"

Devolver rapidamente a equipa aos Adeptos

"Ficarei satisfeito é se conseguirmos devolver rapidamente a equipa aos adeptos, que se revejam na equipa, que gostem de a ver jogar e que a equipa compreenda rapidamente as nossas ideias. Não adianta projectar o que vai acontecer daqui a três meses se não passarmos pelo dia-a-dia e é aí que temos de melhorar e trabalhar competências. O jogo de amanhã [hoje] primeiro, depois preparar o segundo e por aí fora. No último dia veremos o que conseguimos."

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