Entrevista a Octávio Machado
A entrevista completa está aqui no SportingAPoio.com, no entanto disponibilizo apenas a parte que se refere directamente ao Sporting. Gosto especialmente da parte que Octávio explica como tudo aconteceu com Sá Pinto e o Seleccionador Nacional Artur Jorge.
"Por falar em fruta, é verdade que quase andou à pêra com um jornalista?
Não. Aquilo foi um gesto paternal, aquilo que os pais fazem aos filhos. Não me diga que nunca viu isso? Simplesmente apertei o nariz do João Pedro Abecassis, do “Record”. Ele era um jovem jornalista com legítimas ambições de mostrar serviço, subir na carreira, mas aquelas críticas contra mim eram descabidas. Mas já está tudo ultrapassado. Foi um período turbulento, que coincidiu com a minha saída do Sporting.
Da chama do dragão para as garras do leão, saiu arranhado?
Encontrei muitos profissionais sérios no Sporting. Como o Oceano. E três estrangeiros: o Marco Aurélio [central brasileiro], o Naybet [central marroquino] e o Amunike [extremo nigeriano]. Todos eles profissionais íntegros. A parte má daquele clube era o Norton Matos e C.a
Ilimitada?
Sim, ilimitada. Há um lugar mau no futebol português que é o de director-desportivo. E quando o presidente Roquette me diz que o Norton de Matos é a pessoa mais qualificada para o mercado sul-americano, farto-me de rir. Há até um caso que ainda hoje é memorável.
Desta vez, vai contar sem eu lhe pedir?
Está bem, vá. Quando cheguei ao Sporting, os jogadores iam para os treinos como se fosse uma escala para as inaugurações das lojas, tantos eram os convites que recebiam para inaugurar isto, apresentar aquilo. Acabei com isso e sugeri aos jogadores que negociassem prémios de jogo por vitória. Eles aceitaram de olhos fechados e isto define um grupo. Na pré-época seguinte, Simões de Almeida [dirigente do Sporting] e Norton de Matos foram a Lamego negociar os tais prémios com os jogadores, à minha revelia. Na primeira jornada da Liga dos Campeões, ganhámos 3-0. Sabe a quem? Ao Mónaco! Sabe quem jogava lá? Vou recordá-lo: Barthez, Deschamps, Henry, Trezeguet. No dia seguinte, o Norton entra no balneário e pede-me para baixar os prémios de jogo na Liga dos Campeões, porque os bons administradores do Sporting ofereciam tanto dinheiro nos prémios de jogo que a própria qualificação para a fase seguinte dava prejuízo. Mas isto cabe na cabeça de alguém?
Na do Sporting?
Pois… Ainda agora queimaram duas glórias do Sporting: Pedro Barbosa e Sá Pinto. O Sá reagiu mal com o Liedson, mas as coisas não acontecem por acaso.
Mas ele já teve um problema grave, com o Artur Jorge [Março de 1997].
Sim, está bem, ele é impetuoso e o caso foi grave mas é preciso ver isso como um todo. Levou um ano de suspensão da FIFA. E o João Vieira Pinto, que esmurrou um árbitro em pleno Mundial? Três meses. E o Pepe que pisou de propósito um jogador do Getafe e foi suspenso dez jogos pela Liga espanhola? Entretanto jogou na selecção sem problema. E o Liedson, que agrediu um director [Sá Pinto] e mesmo assim continua a jogar na selecção? Que moral têm esses senhores? Então o Liedson vai jogar? Então essa federação desses Madaís? Onde está a autoridade? A FPF vive da selecção nacional.
Isso quer dizer o quê?
Estávamos [Sporting] a assustar muita gente. E o sistema não admite isso… Lembro-me de tudo. O Sporting foi ganhar às Antas [2-1, com golos de Beto, Barbosa contra um de Barroso] e faltava uma jornada para jogar o dérbi com o Benfica. Pelo meio, 4-1 ao V. Guimarães, em Alvalade. Nessa semana, o Artur Jorge convoca jogadores para a selecção nacional e chama um único jogador do Sporting, o Pedro Barbosa, por troca com o Sá Pinto, em relação à última chamada. Mas este lesiona-se com o V. Guimarães e o Sá Pinto, que tinha um grande jogo, pergunta-me o que deve dizer se os jornalistas o questionarem sobre a selecção. Digo-lhe para se mostrar disponível. Qual não é o meu espanto quando vejo no jornal “Record” de terça-feira um artigo a dizer que o Sá Pinto não era chamado porque se incompatibilizava com os colegas, que se irritava facilmente, que atirava bolas para a fora. Eu li aquilo e senti-me mal. E esse texto surgiu de uma conversa entre jornalistas e um elemento da selecção nacional. Repito que o Artur Jorge nunca foi de dar a cara por nada. Lembro-me bem dele, que evitava os adeptos em fúria nas Antas quando o FC Porto perdia pontos fora de casa. Pedia sempre ao motorista para o deixar a caminho do estádio, ali perto da Ponte da Arrábida.
Mas, e o Sá Pinto?
OK. Nós [do Sporting] íamos para Marrocos participar num torneio. Tivemos treino de manhã e havia ali um hiato para ir a casa, buscar a mala e encontrávamo-nos aeroporto. A caminho do aeroporto, ouço na rádio que o Sá tinha agredido o Artur Jorge. O Sá, ao contrário do que muita gente pensa, foi ao Jamor a convite do psicólogo da selecção para se despedir dos jogadores. Chegou lá e passou-se com aquela coluna de opinião do “Record”. Quando as coisas se proporcionam, quando as coincidências são evidentes, é de mais. E o Sá, indignado, explodiu. Apanhou um ano. Os outros andam aí, à solta. E até jogam pela selecção nacional. É uma vergonha. É como aquela história dos túneis.
Qual?
Ah, são tantas. É o túnel do Marquês, é o túnel de Braga, é o túnel da Luz. Este país não se entende com os túneis. Faz-nos confusão. Ó Miguel, continuo a dizer–lhe: isto é só rir.
E quem vai rir em Maio? O Benfica?
Isso agora, não sei. Mas deixem lá sossegado o Benfica, a jogar bom futebol, a encher os estádios deste país e a dar dinheiro aos clubes mais necessitados e mais pobres."
"Por falar em fruta, é verdade que quase andou à pêra com um jornalista?
Não. Aquilo foi um gesto paternal, aquilo que os pais fazem aos filhos. Não me diga que nunca viu isso? Simplesmente apertei o nariz do João Pedro Abecassis, do “Record”. Ele era um jovem jornalista com legítimas ambições de mostrar serviço, subir na carreira, mas aquelas críticas contra mim eram descabidas. Mas já está tudo ultrapassado. Foi um período turbulento, que coincidiu com a minha saída do Sporting.
Da chama do dragão para as garras do leão, saiu arranhado?
Encontrei muitos profissionais sérios no Sporting. Como o Oceano. E três estrangeiros: o Marco Aurélio [central brasileiro], o Naybet [central marroquino] e o Amunike [extremo nigeriano]. Todos eles profissionais íntegros. A parte má daquele clube era o Norton Matos e C.a
Ilimitada?
Sim, ilimitada. Há um lugar mau no futebol português que é o de director-desportivo. E quando o presidente Roquette me diz que o Norton de Matos é a pessoa mais qualificada para o mercado sul-americano, farto-me de rir. Há até um caso que ainda hoje é memorável.
Desta vez, vai contar sem eu lhe pedir?
Está bem, vá. Quando cheguei ao Sporting, os jogadores iam para os treinos como se fosse uma escala para as inaugurações das lojas, tantos eram os convites que recebiam para inaugurar isto, apresentar aquilo. Acabei com isso e sugeri aos jogadores que negociassem prémios de jogo por vitória. Eles aceitaram de olhos fechados e isto define um grupo. Na pré-época seguinte, Simões de Almeida [dirigente do Sporting] e Norton de Matos foram a Lamego negociar os tais prémios com os jogadores, à minha revelia. Na primeira jornada da Liga dos Campeões, ganhámos 3-0. Sabe a quem? Ao Mónaco! Sabe quem jogava lá? Vou recordá-lo: Barthez, Deschamps, Henry, Trezeguet. No dia seguinte, o Norton entra no balneário e pede-me para baixar os prémios de jogo na Liga dos Campeões, porque os bons administradores do Sporting ofereciam tanto dinheiro nos prémios de jogo que a própria qualificação para a fase seguinte dava prejuízo. Mas isto cabe na cabeça de alguém?
Na do Sporting?
Pois… Ainda agora queimaram duas glórias do Sporting: Pedro Barbosa e Sá Pinto. O Sá reagiu mal com o Liedson, mas as coisas não acontecem por acaso.
Mas ele já teve um problema grave, com o Artur Jorge [Março de 1997].
Sim, está bem, ele é impetuoso e o caso foi grave mas é preciso ver isso como um todo. Levou um ano de suspensão da FIFA. E o João Vieira Pinto, que esmurrou um árbitro em pleno Mundial? Três meses. E o Pepe que pisou de propósito um jogador do Getafe e foi suspenso dez jogos pela Liga espanhola? Entretanto jogou na selecção sem problema. E o Liedson, que agrediu um director [Sá Pinto] e mesmo assim continua a jogar na selecção? Que moral têm esses senhores? Então o Liedson vai jogar? Então essa federação desses Madaís? Onde está a autoridade? A FPF vive da selecção nacional.
Isso quer dizer o quê?
Estávamos [Sporting] a assustar muita gente. E o sistema não admite isso… Lembro-me de tudo. O Sporting foi ganhar às Antas [2-1, com golos de Beto, Barbosa contra um de Barroso] e faltava uma jornada para jogar o dérbi com o Benfica. Pelo meio, 4-1 ao V. Guimarães, em Alvalade. Nessa semana, o Artur Jorge convoca jogadores para a selecção nacional e chama um único jogador do Sporting, o Pedro Barbosa, por troca com o Sá Pinto, em relação à última chamada. Mas este lesiona-se com o V. Guimarães e o Sá Pinto, que tinha um grande jogo, pergunta-me o que deve dizer se os jornalistas o questionarem sobre a selecção. Digo-lhe para se mostrar disponível. Qual não é o meu espanto quando vejo no jornal “Record” de terça-feira um artigo a dizer que o Sá Pinto não era chamado porque se incompatibilizava com os colegas, que se irritava facilmente, que atirava bolas para a fora. Eu li aquilo e senti-me mal. E esse texto surgiu de uma conversa entre jornalistas e um elemento da selecção nacional. Repito que o Artur Jorge nunca foi de dar a cara por nada. Lembro-me bem dele, que evitava os adeptos em fúria nas Antas quando o FC Porto perdia pontos fora de casa. Pedia sempre ao motorista para o deixar a caminho do estádio, ali perto da Ponte da Arrábida.
Mas, e o Sá Pinto?
OK. Nós [do Sporting] íamos para Marrocos participar num torneio. Tivemos treino de manhã e havia ali um hiato para ir a casa, buscar a mala e encontrávamo-nos aeroporto. A caminho do aeroporto, ouço na rádio que o Sá tinha agredido o Artur Jorge. O Sá, ao contrário do que muita gente pensa, foi ao Jamor a convite do psicólogo da selecção para se despedir dos jogadores. Chegou lá e passou-se com aquela coluna de opinião do “Record”. Quando as coisas se proporcionam, quando as coincidências são evidentes, é de mais. E o Sá, indignado, explodiu. Apanhou um ano. Os outros andam aí, à solta. E até jogam pela selecção nacional. É uma vergonha. É como aquela história dos túneis.
Qual?
Ah, são tantas. É o túnel do Marquês, é o túnel de Braga, é o túnel da Luz. Este país não se entende com os túneis. Faz-nos confusão. Ó Miguel, continuo a dizer–lhe: isto é só rir.
E quem vai rir em Maio? O Benfica?
Isso agora, não sei. Mas deixem lá sossegado o Benfica, a jogar bom futebol, a encher os estádios deste país e a dar dinheiro aos clubes mais necessitados e mais pobres."
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