O ABC da Reestruturação!



Porque há alternativas, porque há gente que pensa no Sporting como um grande clube, porque queremos devolver o Sporting ao seu passado glorioso. Além de dar a sua explicação sobre a reestruturação financeira, há a apresentação de alternativas porque só assim podemos ser positivos na críticas. Retirado do Ser Sporting escrito por João Mineiro, licenciado em Gestão com especialização em Finanças, sócio nº 18.075 do Sporting Clube de Portugal. Essencial a sua leitura!

"Tenho visto na blogosfera leonina, assim como nos jornais desportivos, muita falta de informação (ou desinformação consoante os casos), sobre o que é verdadeiramente o projecto de reestruturação financeira – tal como vem proposto desde o tempo de Filipe Soares Franco. Antes do mais há que esclarecer três pontos:

- Este projecto nada tem de semelhante com o que foi inicialmente negociado em 2005, ao contrário do que deixa entender aqui um blogger anónimo.

- O controlo da SAD não fica assegurado com 51% do capital, uma vez que não estão garantidos 51% dos direitos de voto mas apenas 26,33%.

- A reestruturação financeira não permitirá investimentos avultados no futebol, como adiante se mostra, ao invés do que é dado a entender em asneiras difundidas pela Lusa e publicadas em diversos meios de comunicação.

A operação, tal como estava anteriormente planeada, processar-se-á em 3 passos.

Passo 1 – Operação Harmónio

Uma operação harmónio é uma operação através da qual uma empresa reduz parte do seu capital para cobrir prejuízos acumulados, aumentando-o em seguida através da emissão de novas acções. No fundo, é o assumir da incapacidade de recuperar prejuízos passados, “limpando” os mesmos dos capitais próprios através de uma redução de capital.

Desgraçadamente, esta é a segunda operação do género que a SAD leonina propões aos accionistas em apenas 6 anos. Já em 30 de Junho de 2004 o capital social foi reduzido de 54,9 M.€ para 22 M.€, sendo a diferença de 32,9 M.€ destinada à cobertura de prejuízos acumulados nos exercícios anteriores…

É necessário esclarecer que a operação harmónio agora proposta, com uma redução de capital de 21 M.€ e um novo aumento de capital de 18 M.€, não irá traduzir-se numa entrada de fundos uma vez que o Sporting (Clube) irá participar no aumento de capital através de novo financiamento bancário. Os recursos postos à disposição da SAD serão utilizados para abater dívida bancária no mesmo montante, no âmbito da reestruturação. Trata-se portanto de uma mera operação de recomposição de capitais e absorção de prejuízos.

Passo 2 – Emissão de VMOC (Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis)

Por sua vez a emissão de VMOC (não são mais que obrigações que pagam juro até à conversão em acções) representa, apenas, substituição de dívida – obrigações emitidas para pagamento de dívida bancária. As obrigações permitem uma maior folga na tesouraria da SAD, através da redução anual do reembolso de capital em dívida de 55 milhões de euros, mas quase nenhuma poupança de custos/juros nos próximos anos. Imagine-se, a título de exemplo, que a entrada de fundos substitui dívida bancária com um prazo de reembolso de 20 anos – em média reduz-se o reembolso durante esse período em 2,75 M.€ por ano. Ou seja, 10% do investimento realizado em jogadores nos últimos meses !!! Ver aqui… Outra opção seria investir este dinheiro em jogadores e galopar em direcção a um passivo de 450 M.€, o que é impensável.

Essa folga de tesouraria, tem no entanto um custo brutal para os Sportinguistas. Ao emitir os VMOC, o Sporting perde a maioria do capital da SAD se não entregar os seus últimos activos à sociedade. As contas são as seguintes:

- Sporting detém actualmente 68,60% do capital da SAD de 42 M.€

- Sporting passará a deter 83,09% do capital da SAD após operação harmónio (assumindo que subscreve a totalidade do aumento de capital), do novo capital social de 39 M.€ (42 – 21 + 18)

- Sporting passará a deter 34,47% do capital da SAD após operação harmónio e emissão de VMOC, do novo capital social de 94 M.€ (39 +55)

A forma “encontrada” para garantir 51% do capital da SAD na posse do Sporting é um novo aumento de capital em espécie, ou seja, a entrega de activos à SAD por parte do SCP. O valor desses activos (X) pode facilmente ser calculado resolvendo a seguinte equação:

[(34,47% * 94 M.€) + X] / (94 M.€ + X) = 50,01%

Ou seja, X = 29,2 M.€.

Estima-se portanto que a SAD irá ficar com um capital final de cerca de 123 M.€.

Passo 3 – Integração da Academia e dos direitos de superfície do Estádio

Conhecendo a avaliação feita à Academia de pouco mais de 20 M.€ – cujo relatório nunca foi público – mas que assumia incompreensivelmente que o novo aeroporto em Alcochete não traz valor acrescentado aos terrenos, e uma vez que esse valor não perfaz os 29 M.€ acima calculados, resta ao Clube passar também para a SAD os direitos de superfície do Estádio José Alvalade.

Resultado final da reestruturação proposta

Antes ainda de revermos as consequências um facto: é absolutamente inaceitável que toda esta engenharia financeira nunca tenha sido claramente explicada aos sócios.

- No Congresso Leonino, realizado em Santarém, José Castro Guedes, mentor do projecto, limitou-se a mostrar alguns slides com as contas da reestruturação financeira numa base de caixa, recusando-se a entregar esses mesmos slides aos 50 sócios/delegados presentes, bem como qualquer outro elemento contabilístico do Grupo Sporting, conforme requerido por 8 delegados presentes, representando 200 votos de sócios. Esse requerimento nunca teve resposta, prevalecendo em Santarém a exposição contabilística de “mercearia”;

- A Sporting Comércio e Serviços foi vendida à SAD sem ser conhecido sequer um balanço da sociedade; a avaliação da Academia nunca foi tornada pública; a autorização para a redução de participação na SAD e trespasse da Academia nunca tiveram aprovação em AG;

- As Assembleias Gerais têm sido um desfilar de silêncios, justificados com a necessidade de “não maçar os sócios”, ou por “falta de condições de segurança”;

- Os pedidos de elementos informativos, ao abrigo do art.20º/1/d dos Estatutos, são constantemente ignorados, motivo mais que suficiente para impugnar qualquer Assembleia Geral. Este pedido e consequente recusa, assinada pelos serviços do Clube, são apenas um triste exemplo;

- A informação enviada para as redacções deixa entender que tudo não passa de uma operação para “dotar a SAD da capacidade necessária de investir na sua equipa de futebol“.

Ora sendo o futebol a única actividade capaz de gerar mais-valias regulares que nos levem à redução do passivo, a venda da sua gestão e capital a terceiros tem de ser explicada de forma transparente. Uma opção pela privatização da principal modalidade do Sporting e pela venda de 50% dos activos que lhe restam exige clareza.

Neste cenário final o Sporting e a intervenção dos sócios ficam limitados a:

- Gestão das modalidades;

- 25% das quotizações dos sócios,

- 50,1% de uma SAD que deixa de controlar – onde terá direito a apenas 26,3% dos direitos de voto. Note-se, a título explicativo, que as acções do tipo B estão limitadas a 10% dos direitos de voto e o Sporting apenas detém 16,33% de acções do tipo A, sem limitações de voto, conforme resulta do artigo 13º dos Estatutos da SAD.

É isto que os sócios querem?

Alternativas

Finalmente chegamos à questão final: existe alternativa?

Claro que sim.

Toda a reestruturação montada não vai permitir mais que uma ligeira redução dos encargos de tesouraria, implicando um custo imediato de alguns M.€ em custos bancários na montagem da operação, obrigando a uma perda total de poder por parte dos sócios com e ao esvaziar do Clube dos seus activos.

Por forma a conseguir o mesmo efeito de tesouraria há que renegociar a dívida bancária para prazos mais alargados, ajustando os reembolsos de capital aos anos de venda de jogadores da formação e oferecendo em contrapartida novos colaterais aos credores. Ou reduzir a massa salarial do Grupo Sporting em 200 mil € /mês. Ou criar um Fundo de Investimento para os passes da formação. Ou criar fundos de Fomento Desportivo. Ou vender o “naming” do estádio durante alguns anos, por doloroso que seja. Ou recuperar a dinâmica de merchandising do Clube através da rede de Núcleos do Sporting.

Ou, a hipótese mais valiosa de todas, com um efeito equivalente à reestruturação proposta pela “Geração da Dívida”. Recuperar/angariar 20.000 sócios – a base de todo o programa Ser Sporting.

Não seria essa verdadeiramente a solução de futuro que o Sporting necessita?"

Comentários

Sérgio disse…
As alternativas são um grande SE !!!

Estão todas invariavelmente dependentes dos resultados desportivos.

De resto acredito sempre que é possível fazer melhor haja competência e vontade para tal.
SL,
Nuno disse…
A pagar 600K/ano ao Purovic para o por a jogar noutro sítio não há reestruturação que valha...

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