O fim de Domingos
É mais um dia triste na história recente do Sporting. A saída de Domingos causa alguma estranheza não forma como sucedeu.
Façamos um pequeno ponto prévio.
Quando Domingos foi anunciado como treinador do Sporting, apesar de não ter votado nesta Direcção e de muitas vezes ter criticado o ex-jogador do Porto, fui recebê-lo a Alvalade. Na altura disse "Fui, muito crítico em relação a Domingos no passado, sempre o vi como um profissional que atingiu óptimos resultados no Braga, mas que nunca lhe "consegui" despir a camisola azul do seu coração. A partir de hoje terei de moderar a minha crítica porque passou a vestir da mesma cor que eu."
Nunca entrei em euforias com o treinador, não fui dos que cantei que queria o Domingos campeão, mas reconhecia-lhe algum mérito que nos fosse capaz de retirar desta crise de resultados desportivos (hoje é disso que se fala). Teve Domingos o melhor período que me lembre dos últimos 5 anos para realizar o seu trabalho. Equipa reforçada, adeptos no estádio sem contestações de maior, um ambiente diferente.
Ainda hoje acho que o primeiro erro de Domingos, apesar de não ter certezas, foi a colocação de Yannick e Postiga a titulares, com o intuito das suas vendas. Ficou-me marcado esse episódio. Mas que rapidamente alterou-se com a série de vitória consecutivas e um Sporting colado aos lugares cimeiros.
Mas então o que se passou para a corda quebrar? Bem, normalmente quebra sempre pelo lado mais fraco, o do treinador. Domingos não apresentou resultados desportivos significativos, que nos fizesse esquecer os tempos mais recentes de Paulo Sérgio e Carvalhal. Apesar da final da Taça de Portugal, o que é verdade é que o clube está a uns incríveis 16 pontos do primeiro lugar e a 8 pontos do 3º, que este ano dá acesso à Champions.
É sempre complicado estabelecer um período de avaliação mínimo para um treinador, principalmente porque vive mais de resultados desportivos, que uma direcção. Mas há erros capitais do ex-treinador que fez com que muitos perdessem a cabeça com ele. As constantes desculpas em relação ao que a equipa produzia, mesmo quando eram evidentes erros tácticos seus, e o tempo necessário para colocar a equipa jogar, tendo mesmo utilizado a expressão "Cerelac". Não funcionou, não fez sentido, e que o digam Leonardo Jardim e Pedro Martins, que com menos ovos têm feito algumas omoletes.
Se me perguntarem se a demissão de Domingos é aceitável? Ainda não sei responder. Não estava preparado para ao fim de 9 meses a situação estar idêntica ao passado. Pelo menos ao nível da equipa. E isso poderia pesar facilmente para decisão de o despedir. Mas não desta forma, não sem ter a certeza que esta atitude é de firme convicções e com atitude liderança.
Mas e a Direcção? Bem, quanto a isto há 2 coisas que são essenciais dizer-se:
1. Godinho Lopes afirmou que os resultados não eram os esperados, mas que a posição de Domingos não se iria alterar. Não foi verdade, não aconteceu, e nem 24 horas demorou. Esteve mal o Presidente. O clube não mostrou liderança e fica no ar sobre quem foi a responsabilidade deste acto. Muito grave!
2. Esta Direcção apostou muito em Domingos. O projecto que "venderam" e lhes deu a vitória nas eleições viveu muito desta contratação. Nunca foi anunciada nas eleições, mas esteve sempre implícita nas vésperas do acto eleitoral. Se o treinador que agora foi demitido, era uma peça tão fundamental neste projecto a médio/longo prazo, em que situação ficamos? A avaliação da Direcção tem para mim como período mínimo 1 ano, o final da época desportiva, e não conseguindo-se os objectivos mínimos desejáveis bem como não estando presente uma peça importante do sistema, como será? Demissão e consequente convocação de eleições?
Pouco mais há a dizer do que hoje aconteceu. A esquizofrenia em que vive o Sporting continua a atormentar-nos, e apesar da rápida solução encontrada, este processo está longe de estar claro. E Domingos ainda nem falou.
Sá Pinto assume o lugar de treinador principal. Continuará a ter os adeptos do seu lado, até pela boa imagem que goza junto de todos nós. Cometeu excessos no passado, mesmo no Sporting, mas nesse aspecto, quem nunca os cometeu? No entanto, fica a dúvida se estará apto para este lugar de enorme dificuldades, não pela qualidade que possa vir a demonstrar, mas acima de tudo pela estrutura que teima em queimar tudo e todos. São já 36 treinadores desde Malcolm Alisson e isso dá que pensar!
Comentários
Partilho bastantes sentimentos com os que expressas no post. Tenho mais dúvidas que certezas: crítico com bastantes coisas desta direcçao, crítico com bastantes coisas do Domingos, nao sei exactamente se, entre as várias possibilidades de acçao, o chicote era a mais viável. Porque se por um lado pode ser uma soluçao, por outro também pode criar novos problemas. E há problemas velhos que ainda estao longe de resolver-se.
O que mais me preocupa é como é que dois treinadores com perfil tao diferente acabam por ser escolhidos para encaixar no mesmo projecto de clube pela mesma gente. Podia entrar num exercício de rejeiçao total (ou de cinismo) e dizer que essa mesma gente nao sabe o que anda a fazer mas a verdade é que ao assinar até 2013, aparentemente o Sá Pinto é agora o homem indicado para um lugar que há 5 meses precisava de alguém com provas dadas e com experiência no campeonato nacional e nas competiçoes europeias, para enumerar as características mais díspares entre os dois.
Nesse tempo, o Sá Pinto deu boa conta de si na NextGen e no campeonato de juniores o Domingos deixou um trabalho que nao sabemos se ficou de todo a meio mas certamente ficou num ponto estagnado.
A questao que colocas da dissonância entre o que foi dito e o que foi feito pela direcçao é uma parte do velho problema: liderança que nao é em uníssono, uma gestao pouco transparente em que elementos exteriores à equipa têm um peso (pelo menos mediático) altamente superior ao que deveriam.
Usamos tanto as palavras modelo e projecto e estrutura que às tantas nem sabemos bem do que falamos mas a verdade é que falta algo de fundo que pelo menos permita construir uma narrativa em que estas decisoes encaixem de forma serena e confiante numa série de objectivos e valores que se mantenham intactos.
Nao sei exactamente o que o clube precisa neste momento, isto é, nao sei se o que o clube precisa neste momento é algo diferente do que precisava ontem ou anteontem ou há seis meses. Sei que, pela minha parte, se calhar é altura de ter menos certezas, pensar mais um bocadinho nisto tudo e pensar calado, com prudência. Para ruído já basta o que nos impôem.
saudaçoes leoninas,
tiago
vamos ver o que sa pinto faz, se muda a tatica e o modo de jogar ou se mantem , mas ha jogadores que merecem mais tempo de jogo como o andre martis q e carrilo tambem ... vamos ver