foto: Gualter Fatia/Getty Images A realidade, por vezes, é muito simples. O Sporting está em primeiro no campeonato e mesmo olhando para o que ainda falta da época, ninguém imaginaria que isso fosse possível há uns meses. Os factos também são muito simples, fomos eliminados da Liga Europa e da Taça de Portugal, duas competições que obrigatoriamente devemos ter sempre em consideração e atingir o máximo possível. Na Europa, diria que ao nível actual passar a fase de grupos, que este ano nem entramos, na Taça chegar ao Jamor, são metas mínimas. O Sporting ontem deveria ter vencido o Rio Ave. Não só porque é mais forte, como é em nossa casa (quem disse que o público não fazia falta?) e porque o jogo era, de certa forma, muito parecido com o que fizemos na Madeira diante do Nacional. Não pelas condições atmosféricas, mas garra que era necessário mostrar para nem haver dúvidas quanto ao vencedor. O empate é justo prémio pelo que a equipa de Vila de Conde fez, sustentada numa grande exibiç
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Gosto de acreditar que aprendi a ser do Sporting, ninguém me ensinou, ninguém me forçou ou indicou o caminho. Encontrei uma figura a copiar na família e percebi com ela o sportinguismo. Dava-me lições do que era o Sporting mas sem me impor o que quer que fosse. Mostrava-me o que o clube tinha de bom sem sequer precisar de dar a entender o que tinha de mau. Era a fase do jejum, ninguém deixava passar isso em claro. Não faltavam adultos a promover lavagens cerebrais, a ridicularizar o Sporting e a vangloriar o Benfica. Ser do Sporting era mais do que isso, era ter orgulho.
É perfeitamente natural que tenha uma visão mais romântica daquele tempo, de achar que naquela fase, apesar de não ganharmos, é que era. Para mim, era porque havia Balakov, um mago búlgaro que fazia tudo. A classe abundava naquelas equipas, com Figo, Cadete, Peixe e até Nélson e Paulo Torres pareciam dois laterais de fazer inveja a todos os adversários. Ofensivos como se queria numa equipa com o Sporting. Mas sejamos honestos, essa geração apareceu num período em que o Sporting esteve 13 anos sem ganhar um único campeonato, uma única Taça de Portugal. Salvou-se uma Supertaça a que fomos por termos perdido a Taça de Portugal. Por outro lado, tenho a certeza que quem tenha nascido dez anos, dirá o mesmo do que eu mas sobre António Oliveira ou Manuel Fernandes. E que quem veio depois terá João Pinto ou Hugo Viana. É sinónimo do romantismo que sentimos quando estamos a crescer em volta de um fenómeno.
O mundo mudou. O Sporting parece estar imerso numa nova fase terrível e leio constantemente desabafos de adolescentes que dizem que o Sporting não é isto. Têm 15, 16, 17 anos. Faço as contas e vejo que não sabem o que dizem. Só por terem aprendido a falar enquanto se ganhavam títulos, não quer dizer nada. O Sporting não devia ser isto, isso sim. Mas é isto. É isto agora, foi isto há 20 anos, foi isto praticamente desde a década de 60, em que se contentava por ganhar um título a cada três do Benfica.
E o que posso dizer mais? Este Sporting está capaz de envergonhar o adepto mais optimista mas ser do Sporting continua a ser um orgulho. Ser do Sporting é ser diferente, sim. Não é melhor, nem pior, é diferente. Ter liberdade de escolha e optar pelo Sporting é único. Não é ser alternativo ou hipster, mas ter personalidade. Não é ser refém do "maior de Portugal" ou do que ganha mais. É abrir os olhos, ponderar e escolher um caminho, porque a vitória não pode ser o único fundamento de uma escolha, de uma paixão.
Sofro com este Sporting. Sofro eu, sofres tu, sofrem os adolescentes que acreditam que isto não é o Sporting. Infelizmente, já não sofre quem me mostrou o que era ser do Sporting. Já morreu e é uma pena. Faz-me falta ter alguém tão próximo com quem partilhar este orgulho.
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