A Doyen? Um problema menor!
Sempre pensei que para qualquer Sportinguista afrontar a Doyen seria um bom caminho. Ao longo dos últimos meses, e de certa forma, ainda antes de Bruno de Carvalho ser Presidente do Sporting, a posição que qualquer adepto racional teria sobre a Doyen é que "Os fundos de investimento são instrumentos que permitem aos clubes viver acima das suas possibilidades". Esta última frase até é da AAS mas dá para perceber aquilo que pensaríamos sobre esse mecanismo de financiamento.
Não quer isto dizer que seja errado seguir um caminho de investimento no futebol com base nos fundos. Bruno de Carvalho ainda antes de ser presidente pensou num plano com base nos fundos. Felizmente abandonou-o!
Não fosse o processo que avançou para o tribunal, no TAS, entre Doyen e Sporting, porque o clube se sentiu lesado na negociação de Rojo para o Manchester United, e o Football Leaks, hoje ainda muitos, principalmente os que vivem da maledicência contra a actual Direcção, não saberiam da actuação vergonhosa de tal entidade.
Já o disse, por diversas vezes, o problema não é o mecanismo em si, é a forma de actuar pouco transparente. Nem quero imaginar se houvesse um Panama Papers com documentos dos negócios da Doyen, daria um belo filme.
Nunca é demais recordar um célebre mail de Nélio Lucas, CEO da Doyen, para Carlos Vieira, Vice-Presidente do Sporting, em que fica muito claro quem manda quando nos metemos com os fundos e em que ponto as posições negociais se tornam absolutamente díspares.
"De: +351913829070
Recebido: 9 Ago 2014 17:27
Carlos vamos ver se nos entendemos...
O MU não vai ajudar com nada até porque não tem porque ajudar.
Já mandou uma oferta por um valor que na opinião de todos, inclusive vossa, é
acima do valor do jogador porque falamos de 15M€.
Mais ainda que fique claro que o Sporting não está em condições de exigir nada,
aqui só se trata de informar se aceite vender ou não e
para caso há obrigações e
formas de resolver.
Não aceitando vender enviaremos uma fatura de 15M€ para cobrar
os 75% do valor
da oferta como temos direito.
Vendendo nós estamos
na disposição de oferecer ao Sporting condições que
tornam
o negócio bom atendendo ao que está pactado.
Talvez se consiga ainda
melhor mas precisamos falar.
Carlos temos até amanha as 9 da manha para contestar ao Manchester
e eu não
brinco com estes assuntos. Eu sei que o presidente gosta destes
extremismos mas
neste assunto não há margens para loucuras
porque os contratos são muito claros e
inquestionáveis por muito
que pensem o contrário... Bastaria ver as jurisprudências
noutros casos."
Gosto, especialmente da parte em que se diz "por muito que pensem o contrário".
Ora, é precisamente neste ponto que o Sporting baseou a sua defesa nos argumentos apresentados ao TAS.
Eu sei que grande parte dos adeptos apenas se preocupa com os golos na baliza. Eu também.
Mas, para discutir o Sporting, algumas das decisões absolutamente estratégicas do clube, é necessário ir um pouco mais fundo. Mesmo não sabendo, como quase todos nós, dos argumentos jurídicos apresentados, nem tão pouco da interpretação das leis.
Na altura, o escritório Suíço que o Sporting consultou, reforçou que é difícil de prever o desfecho do processo, porque a defesa do Sporting é baseada na nulidade do acordo ou na rescisão com base na violação por parte da Doyen, e isso vai ser uma "uphill battle" (batalha dura).
É uma batalha dura porque não é fácil apresentar argumentos válidos embora o documento refira que a FIFA tem sido muito dura com os direitos tripartidos (TPO) e os ERPAs "are widely criticized in the football community." e atesta esta posição com declarações de Platini, da KPMG entre outros.
Concluindo que o desfecho deste processo não pode ser previsto, o Sporting levantou sérios argumentos na defesa contra as queixas da Doyen. Embora haja o risco do Sporting perder o processo e ser condenado a pagar os montantes reivindicados pela Doyen, não significa que tal resultado seja provável tendo em conta a defesa usada pelo clube.
Isto não são notícias de jornais, nem supostas fontes seguras, foram documentos oficiais que, felizmente, direi, foram colocados on-line pelo Football Leaks.
Continua a ser espantoso que alguns Sportinguistas, com tão pouco para criticar, se agarrem a notícias como a que hoje o O Jogo lança cá para fora. Claramente plantada pela Doyen.
Não há problema algum em que a Doyen peça à UEFA a penhora dos prémios para pagamento da dívida que decorre do processo. Certamente nas leis e regulamentos vigentes tudo estará perspectivado e os advogados do Sporting estarão a par do que poderão ou não fazer.
O que mais me intriga é que vivemos um período onde Bruno de Carvalho alterou o paradigma de gestão do clube, comprovadamente para melhor, com resultados financeiros claros e satisfatórios, onde a informação não é escondida e se continua a não perceber a importância de afrontar a Doyen e a sua preponderância nos negócios, preferindo, só assim se entende a verborreia que ataca alguns Sportinguistas, que o clube apostasse num estilo de negociação que nos tirou algumas peças importantes da equipa e que visava ver sair alguns do futuros jovens promissores por "tuta e meia" e sem direito a manifestação de desagrado por parte do clube.
Sinceramente, a Doyen, que já sabíamos ser um alvo desde o dia que em na AG do Sporting se percebeu que era importante travar uma batalha para equilibrar a nossa posição negocial, é um problema menor em três anos de consolidação do clube.
Claro que são 14 milhões de euros, mas meus caros, se não houvesse caso Doyen no TAS, era 12 milhões.
A luta vale(u) 2 milhões mais?
Sem dúvida, porque do paradigma do passado já estamos nós cheios!
E quem não concordar com esta visão, para o ano há eleições!
Comentários
A luta vale(u) 2 milhões mais?"
SL
SL
só foi pena não terem dito por iniciativa própria logo na altura que os prémios estavam penhorados. agora isso é usado como arma pelos outros, quando é a coisa mais banal
ao mesmo tempo uma maneira de se poder investir o dinheiro, já recebido, na equipa, nada disto me choca, o pior, aquilo que me preocupa é isto.
Os juízes consideraram que os argumentos da Doyen "venceram quase na totalidade". E que o Sporting, pela voz de Carlos Vieira (director financeiro do Sporting) "não foi capaz de responder à questão feita pelo painel sobre quais foram os danos materiais causados pela Doyen ao Sporting e como chegou aos valores de 10 milhões e 3 milhões de euros".
Esta (in)competência é que me deixa muito preocupado.