Venda da maioria da SAD? Não, obrigado!
Já não escrevia no blogue desde o final de Fevereiro e estava longe de imaginar que iríamos entrar num período estranho e inédito devido a esta pandemia. Hoje volto à escrita para falar da Venda da Maioria da SAD do Sporting Clube de Portugal.
Se o dia chegar em que o Sporting Clube de Portugal perca a maioria do capital da SAD então é também o dia em que deixarei de viver apaixonadamente pelo clube e, provavelmente, desligo-me quase por completo e não mais me preocuparei com o que por lá se passar.
Quero voltar uns anos atrás quando o Sporting foi pioneiro da criação da Sociedade Anónima Desportiva. Fui a favor, achei que era possível com este passo profissionalizar e dotar o clube de competência. Já voltarei a isso.
Todos os últimos Presidentes que têm passado pelo clube, Varandas, Bruno de Carvalho, Godinho Lopes dizem, escrevem nos seus programas que perder a maioria da SAD nunca irá acontecer. Acredito que uns sintam mais isso que outros, mas também todos sabem que com as VMOCs emitidas, mecanismo que entrou no clube em 2011, esse cenário poderá acontecer se não procedermos à sua recompra. Os Bancos numa primeira fase ficariam com uma % da SAD e depois, certamente, iriam vender a quem se mostrar disponível para comprar.
Não vou agora fazer as contas, porque não é disso que se trata, mas ainda há 2 anos, o Sporting precisaria "apenas" de 40 milhões de euros para garantir que a sua posição chegaria aos quase 90% do capital da SAD. Portanto, está bem à vista que em primeiro lugar depende da direcção que está à frente do clube para que isso não falhe e em segundo depende dos sócios e de quem estes colocam à frente dos destinos do clube para que tudo continue como está e conhecemos.
Voltando à questão da maioria da SAD, nas últimas semanas um conjunto de escribas da nossa praça com ligações fortes à comunicação social, e por isso aparecem as escrever uns parágrafos em jornais com elevada tiragem, vieram defender a venda da SAD e a entrada de um investidor. Inclusive dão exemplos de mercados como o Britânico e o Alemão, como se fosse comparável, escalas muitos superiores, esquecendo-se, por exemplo, dos vizinhos aqui do lado em Espanha, como exemplo contrário.
Mas sinceramente nada disso interessa. A venda da SAD em nada resolveria os problemas do Sporting. Quanto muito alguns de curto prazo seriam resolvidos, mas com o mercado como o Português, pequeno e empobrecido, quando comparado com os grandes exemplos que normalmente dão de países ricos, seria o adiar para que a identidade do clube, tal como a conhecemos, morresse e desaparecesse por completo.
Algum investidor irá meter dinheiro no nosso clube quando perceber que a taxa de retorno do investimento é baixíssima e que dificilmente recuperará o seu investimento, quanto mais ganhar acima do investido, percebendo, facilmente, que o seu negócio estará muito dependente da bola que entra ou vai ao poste? Da venda de uma grande estrela que pode ou não ser produzida ou encontrada?
Não se esqueçam que com a entrada de um investidor que garantisse a maioria do capital da SAD do Sporting, nesse dia, todos nós, que estivéssemos contra, deveríamos entregar o nosso cartão de sócio e esperar receber pelo correio o novo cartão de cliente do Sporting. E, claro, as modalidades ou se tornavam auto suficientes ou então seriam condenadas à sua extinção. O ecletismo do Sporting era enterrado nesse preciso momento!
O Sporting não precisa de um investidor, mesmo sabendo que o dinheiro dá jeito. O Sporting precisa de profissionais competentes e de construir uma estrutura que seja capaz de ao longo do seu mandato executar os pontos que apresenta no seu programa. E isso, como todos sabemos, ainda recentemente aconteceu. O primeiro mandato do Bruno de Carvalho, como já fiz alguns textos sobre isso, teve uma taxa de execução muito elevada do seu programa e por isso é que muitos sócios relembram esse mandato como muito positivo. Não era fácil, e o Sporting continuava com muitas dificuldades financeiras, mas havia um rumo definido. Depois....enfim...não vou voltar a essa conversa, é passado.
Não vou entrar agora na discussão de competência, mas deixo apenas algumas notas, um Gestor (ou um Dirigente máximo do clube) é alguém que organiza, planeia (alto nível), dirige e controla o trabalho dos outros a fim de produzir um determinado trabalho que é avaliado, em última instância, e talvez na mais importante, pelos sócios e adeptos do clube. A sua avaliação será em função de critérios de eficiência e eficácia dos resultados alcançados. Parece simples, certo? E é!
A venda da SAD como muitos preconizam não resolve nada. A Sporting SAD é uma empresa, como todos sabemos, mas como costumo dizer, bem diferente da Sonae, Jerónimo Martins e afins, só para citar alguns, pois nestas empresas os clientes hoje vão a uma determinada loja de uma marca e amanhã vão a outra, a paixão pela marca é breve (no contexto da vida de uma pessoa) mas muito impessoal.
No Sporting os "clientes" são para lá de toda a vida, e isso, faz toda a diferença!
Comentários
Quando se decidir não existirá forma de voltar atrás. Comparar com outros futebóis de outros patamares não é justo, pois eles (nomeadamente o inglês) vivem e oferecem realidades que o nosso não, falarmos do sucesso entre portas, também tínhamos de falar dos vários insucessos. A nossa preocupação é entrada de capital versus dotar o Clube de uma equipa competitiva. Podemos fazê-lo, com uma gestão rigorosa, aquisições precisas e jogadores de elevado potencial formados por nós, porque os temos, os encontramos e os desenvolvemos. São situações que levam tempo a implementar, mas que o nosso ADN nos ajudará. Temos é de ser bem geridos e definir estratégias e objetivos, tendo as pessoas e as estruturas adequadas para tal. Andamos a formar para os outros, ou seja temos os jogadores que podem evoluir e contribuir desportivamente para o êxito do Clube, necessitamos de juntar algum valor adquirido, e depois entende-se que afinal o que temos entre portas só acrescenta valor aos outros e que necessitamos de alguém que nos venha mostrar aquilo que já devíamos saber. A diferença o capital, a gestão passa por sermos mais rigorosos, por andarmos nós e não outros a pensar e executar. Como alguém já disse veja-se o Braga, com custos com o plantel muito menores que nós tem vindo ao longo do tempo a construir e caminhar na construção de equipas cada vez melhores (até com a nossa ajuda) e com melhores resultados. Tudo se resume a uma decisão, uma vez tomada não existe retorno e ou dá certo ou dá errado, tendo sempre de se pesar os riscos inerentes à sua decisão. A venda deixa que o futebol deixe ser do Sporting e correndo mal, quem intervém para solucionar? Poderá ser revendido? E a quem? Que escrutínio se irá fazer dos compradores e da origem dos seus dinheiros?
Quero ser eu a transmitir aos meus descendentes os valores do Sporting, quero ser eu e todos aqueles que amam o Sporting a ter o direito e obrigação de o defender e preservar. Vender seria trair quem o fundou, quem na superação das suas capacidades elevou bem alto o nome Sporting. É nossa responsabilidade buscar uma solução, porque ela existe sem ser a de desistirmos de ter o Sporting.
SL