Sair da falência?

O Sporting comunicou hoje à CMVM um acordo de reestruturação financeiro com a banca, BES e Millennium, no sentido de efectuar algumas alterações que no entanto passarão por uma AG da SAD. O comunicado é todo ele técnico, mas o que mais importante referir é que o Sporting pretende efectuar uma redução do capital social para escapar ao artigo 35º das sociedades comerciais (os credores poderia pedir a dissolução da sociedade) e emitir novas acções denominadas VMOC's. Isto tudo num palavreado que se entenda melhor a operação em causa.

O problema é que mais uma vez estamos a tentar evitar a falência com artifícios financeiros, que já o vimos fazendo desde 2002, mas esquece-mo-nos de algo muito importante, caso a gestão desportiva e respectivos resultados sejam desastrosos como nos últimos anos, não sendo campeão, comprando bem e vendendo melhor, o que irá certamente acontecer em breve é voltar ao ponto em que nos situamos neste momento.

É preciso lembrar que já não é primeira vez que tentamos estas situações, mas na última década os prejuízos são avultados. Sair da situação de falência técnica significa perder posição do clube na SAD, vender património, aumentar os encargos financeiros, e enquanto tudo isto perdurar e a equipa não tiver valor suficiente para voltarmos aos resultados desportivos positivos, a situação poderá agravar-se. Não é à toa que enormes sorrisos se podem ver na cara de alguns directores do BES e do Millennium.

Recapitulando e relembrando, não vai haver mais dinheiro para investimento em jogadores e salários e afins. Nada disso. Tecnicamente em falência arranjamos uma forma de sair da mesma, evitando o artigo 35º, mas as receitas continuam idênticas, os prejuízos também, logo, se o futebol não for pensado como deve ser....voltamos em breve a cair num novo comunicado sobre uma situação de nova falência. Percebem o efeito de bola de neve? Só a reformulação da dívida não chega, é preciso controlar e diminuir.

Então porque se avançou com isto? Simplesmente porque éramos obrigados a evitar o artigo 35º e quem sabe a falência ainda pudesse avançar pela via legal. As medidas tinham de ser tomadas, mas se não se mexer de forma eficaz na gestão do dia a dia, voltamos ao ponto inicial deste texto. No fórum SCP vi um exemplo que me parece muito lúcido para perceber a situação, há um balde de água que precisa de estar constantemente cheio (não falência), daí as medidas que foram agora tomadas, mas há um furinho que não é tapado e que deixa a água sair constantemente. Percebem o resultado final?