Fundo estrangeiro e veículo financeiro
A época 2011/2012 começou hoje, mas ainda estou intrigado com as declarações do Presidente do Sporting efectuadas ontem. Foram 3 os pontos a que se referiu que deixam qualquer adepto a pensar no que realmente aquilo quer dizer:
- Os 8 milhões quase gastos e anunciados nos últimos tempos, em novas contratações, passaram a 15 milhões, quase o dobro;
- Um "fundo estrangeiro que comparticipa na compra de jogadores" e um "veículo financeiro criado por uma organização exterior" e que somando tudo obtemos os (quase) 30 milhões de euros prometidos.
Alguém percebe isto?
Comentários
O presidente veio falar que já investiu 15 milhões e veio dizer que os agentes cobram um X, os jogadores cobram um Y, há prémios de contratos Z... e ele não sabia disto? É que afinal parece que não estava muito por dentro do assunto e achava que contratar um jogador não envolvia pagar comissões a empresários e prémios de assinatura.
SL
Eu não e estou ao lado daqueles que gostava de ver estas declarações esclarecidas.
Quanto à comparticipação dos fundos na percentagem do "passe", acaba por ser algo de relativamente usual (o Sporting deve ter nessas circunstâncias imensos jogadores, o evidente desses casos é o do Torsiglieri que foi "comprado" na totalidade e depois cedido a 50%). É uma forma de dispersar o risco por outros investidores em "passes", que o FCPorto (e o Benfica) utiliza(m) com imensa frequência na hora de contratar (vide Hulk, Falcão, etc.) ou já depois de contratados (vide Moutinho).
Já o veículo de investimento, participado por investidores externos, parece-me obedecer a uma lógica próxima do que defendia ao Braz da Silva durante o período em que foi candidato. A sua forma concreta também pode ser a de um "fundo" e os seus contornos não os consigo compreender: participam na totalidade ou parcialmente no "passe", suportam salários ou não, quem escolhe os jogadores, é "oferecido" algum do Sporting em compensação, etc.
A questão tem mediatismo por se opor ao "fundo russo" do Bruno Carvalho, cuja adequação foi rejeita por duas razões distintas: pelo modelo de negócio que propunha (que nunca ficou - pelo menos para mim - totalmente esclarecido, nomeadamente as questões acima referidas, mas também - face à importância do montante - se envolvia algum tipo de cedência do controlo desportivo do clube) e a origem do dinheiro.
Nos debates a que assisti GL detinha-se muito mais sobre a operacionalidade do fundo, sobre os termos em que isso influiria na vida do clube, do que na susceptibilidade de se dividir o risco nas contratações com terceiros (isso é, aliás, o que está na génese da criação das sociedades anónimas: a dispersão do risco do investimento).
Em suma, foi uma grande argolada - não propriamente pelo conteúdo - mas pela ausência de clareza, por se dar o flanco naquilo que é mais fácil de perceber o cumprimento de uma promessa eleitoral, os tais "milhões".
Por exemplo, referir "prémios por objectivos" para jogadores que estão a ser contratados, para o comum dos mortais (e foi o meu caso até que descobri a saída) é um bocado absurdo. Já referir que o valor final de uma transferência depende do cumprimento de um conjunto de objectivos quantitativos - n.º de jogos, cumprimento de objectivos desportivos, internacionalizações - faz sentido e também faz sentido que se cativem esses montantes...
Tem havido vários défices de comunicação que ensombram o trabalho pelo menos decidido que tem sido realizado. Veremos no campo se bem sucedido. E já falta pouco.